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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Preliminares

“Nosso objetivo é abstrair padrões da natureza (pensamento do hemisfério direito), mas muitos padrões propostos de fato não correspondem aos dados। Por conseguinte, todos os padrões propostos devem ser submetidos ao crivo da analise critica (pensamento do hemisfério esquerdo)। A busca de padrões sem a analise critica e o ceticismo rígido sem a busca de padrões, constituem os antípodas da ciência incompleta। A perseguição efetiva do conhecimento requer ambas as funções”। (Carl Sagan, Dragões do Éden). 
Numa especulação estimativa os biólogos dão-nos conta de que para cada espécie sobrevivente no planeta, dez outras, desapareceram. Foram simplesmente eliminadas ou descartadas, por não terem condições de desenvolvimento compatível com o meio ambiente ou ainda, não acrescentarem mudanças significativas para a evolução da espécie. Grosso modo, isso significa que, para a nossa espécie chegar aqui, já matou dez outras. Obviamente não somos responsáveis por isso. Quando estas escolhas foram feitas, nenhum de nós, estava lá presente, para votar, assentir ou mesmo ignorar quem sobreviveria, quem não. Para não recuarmos muito no tempo, vamos estabelecer que o homem de duzentos mil anos atrás estava pronto, com todas as habilidades e qualidades que consideramos humanas hoje. Esse é o homem que descobriu o fogo, que estabeleceu moradas e inventou conceitos. Das suas observações da natureza, das suas conclusões intuitivas e do refinamento dos seus instintos criou lenta e progressivamente um universo paralelo à realidade cotidiana de apenas sobreviver, criou um Universo Mágico। Como Universo Mágico entendamos a busca continua desse homem pelo seu lugar no mundo.
Por que caminhos esse homem chegou ali, Leakey e outros podem nos contar. Mas certo é que num dado momento, esse homem não era apenas mais um animal; não mais aquele que só viveria pelo próximo dia, mas teria outras preocupações além de caçar um coelho para alimentar a família, ou se esconder nas cavernas por causa da chuva, esse homem se reuniria ao redor da fogueira, contaria as coisas que viu nas suas andanças, dividiria com outros suas experiências e aprenderia com eles novas coisas. 
Que coisas seriam estas?
Observações de animais, de rios, de céus, de estrelas. Então esse homem, pela primeira vez na historia deste planeta, faria mais do que sobreviver, ele, como disse Parmênides, pensaria. Então, ele existiria, ao existir, sonharia, ao sonhar, construiria a base do pensamento reflexivo que nos diferencia do resto dos animais. Pensamento consciente, existência além do mundo aparente. Imaginação. Sonhos. Medo. Obviamente seriam necessários, mais 197.000 anos para que a linguagem se transformasse em escrita, a escrita em filosofia e os esforços do pensamento racional e analítico passassem a determinar o contexto do viver humano, mas o cerne do pensamento intuitivo que criou os conceitos com os quais vivemos até hoje, já estava lá, pronto e atuante. 
Apenas como um ponto de vista limitado, vamos definir o processo civilizatório como o resultado do uso conjunto das habilidades tecnológicas, da cultura, do desenvolvimento antropológico e individual em uma determinada região ou era. Assim hoje, podemos estabelecer para a raça humana, um padrão. Esse padrão é inclusivo e acumulativo, ou seja, podemos nos beneficiar da experiência de todos os que já viveram, pensaram e morreram antes de nós. Essa herança nos garante habilidades que de outra forma seria impossível salvaguardar. Como o fogo por exemplo, não precisamos aprender a fazer fogo todas as manhãs. Nem precisamos aprender a nos equilibrar sobre os pés todos os dias. E no entanto, essas foram habilidades aprendidas por um individuo. O resultado conceitual dessas tentativas, incorporadas ao modelo primário criou ao longo do tempo o que hoje vemos como o padrão civilizatório. Não as grandes civilizações, como as chamamos, isoladamente, mas a civilização humana. O homem. Porque, as motivações e os anseios são os mesmos. Qual a diferença entre sair para caçar um bisão ou ir ao supermercado? Ainda somos caçadores-coletores. Ainda nos sentimos impotentes perante a imensidão do Universo. Tanto mais aprendemos, maior o senso de surpresa, porque o mundo nunca acaba onde nós achávamos que acabaria. E o nosso mundinho fica cada vez menor, ilhados num planetinha, num sistema solar de quarta categoria, numa galáxia periférica. Um ponto de vista limitado pelo horizonte, claro que nosso horizonte hoje não é mais um circulo limitado pela visão. O mundo não acaba onde o Sol se põe. Mas um círculo com um ponto no meio ainda é a melhor representação de onde estamos ou quem somos.